Outra de minhas escritoras "prefiletas" é a Anne Rice, uma norte americana coroa que vive em New Orleans e teve diferentes fases na carreira literária. Conheci a Anne Rice através do primeiro filme produzido a partir de um romance dela, como muitos mortais, "Entrevista com Vampiro". Gostei bastante do filme e comecei a ler o livro em 1997 como fonte de pesquisa para uma peça de teatro que encenamos naquele ano, onde a primeira cena mostrava sete vampiros que davam mensagens para o ser humano. Depois do Entrevista comecei a ler tudo que é livro dela que chegava nas minhas mãos, e apesar de não ter lido todos, acho que eu poderia classificar a obra da Anne Rice em 3 grandes categorias que descrevo abaixo. Pra quem manja inglês, temos aqui no Sombriny Comics & Books algumas entrevistas muito bacanas com a escritora, onde ela relata um pouco da sua vida, técnicas para escrever uma boa história e a virada que ela deu na própria carreira.
As crônicas vampirescas
ENTREVISTA COM O VAMPIRO.
Tudo começa aqui. O primeiro e um dos melhores livros escritos por Anne Rice, que resolveu brincar com um tema popular (histórias de terror e vampiros), mas sob uma perspectiva nunca antes trabalhada: um vampiro sendo entrevistado por uma pessoa comum. E a brincadeira deu tão certo que virou um dos maiores best-sellers da escritora e produção cinematográfica. É um livro gostoso de se ler, ambientado em New Orleans. O herói ainda era o Louis e esse livro apresenta a fascinante vampiro-criança Cláudia. Um clássico.
Nessa segunda crônica vampiresca, Anne Rice conta a história do vampiro Lestat, o "vilão" de Entrevista com Vampiro. O livro se passa no século XVII e nos remete a uma França rural e medieval onde um jovem e bonito aldeão é sequestrado por um demônio e tem sua vida transformada para sempre. Nesse livro o vampiro Lestat é mostrado mais de perto e desde jovem e aparece com um tom mais poético e heróico. Ele transforma a mãe, Gabrielle, em vampira e os dois se aventuram pelo mundo e descobrem seus poderes juntos. Muito bacana.
A RAINHA DOS CONDENADOS
Quando terminei de ler "O Vampiro Lestat" tudo o que eu queria era por logo a mão no próximo livro. A história termina de uma maneira tão intrigante que eu simplesmente não conseguia dormir pensando no que poderia acontecer. Já não me lembro de muitos detalhes, mas quando li esse livro foi um deleite absurdo. A Rainha dos Condenados tem um ritmo tão bom que consegui devorar 750 páginas em duas tardes. Quando li, eu lia com um som da Tori Amos na maior altura e o disco tinha uma música que se chamava "Pandora" (personagem do livro.). O livro conta a história de Akasha, a primeiríssima vampira que existiu na Terra. Paralelamente, continua contando a história do Lestat, que tem um relacionamento com Akasha e também dos primeiros vampiros que pisaram sobre a Terra. Esse livro é legal também porque mostra a Talamasca, uma organização inglesa que investiga fenomenos sobrenaturais e aparece em outros livros da Anne Rice. Vale muito a pena, pelo ritmo intenso que ela aplica na história. Fizeram uma vexaminosa adaptação para as telas.
Li esse livro em algumas tardes a toa que passei aqui em São João del Rei. Quarto livro da série das crônicas vampirescas, na minha opinião este é o mais fraco. Conta uma viagem do Lestat, numa época em que ele já tinha vivido o romance com a Akasha e aí sai perambulando pelo mundo, descobrindo os próprios poderes. Uma parte é ambientada no Rio de Janeiro. Num dado momento da história Lestat decide que quer trocar de corpo com um ser humano comum, pra voltar a sentir a vida como um mero mortal e ele consegue isso. Aí troca de corpo com um fulano lá, que se não me engano morre no final. Meio bobo.
PANDORA
Esse eu nunca li. Parece ter sido escrito mais tarde, como uma nova crônica vampiresca. É narrado pelo David Talbot, e agora eu fiz uma senhora confusão de personagens na minha cabeça, se alguém acompanha o Sombriny e souber a resposta, ajuda aí: David Talbot é o entrevistador, que entrevistou o Louis e ficou enchendo a paciência dos vampiros querendo se tornar vampiro até que no final do Rainha dos Condenados ele consegue? É isso mesmo? Ou é aquele membro mais jovem da Talamasca? Viajei, help readers!!
E, claro, conta a história da vampira Pandora que é uma das mais velhas, mostrada no Rainha dos Condenados.
O VAMPIRO ARMAND
É ele mesmo. Aquele vampiro encarnado no cinema pelo Antonio Banderas, que comandava o Teatro dos Vampiros. Nesse romance, Anne Rice nos traz as origens desse personagem. Estou lendo esse livro, estou no meio, dou uma enrolada, não me prendeu muito. Por enquanto ela tem mostrado um jovem Armand, como uma espécie de anjinho pintado por Boticcelli. Mas as feições angelicais eram apenas nas características físicas. Armand vivia com Marius que é outros vampiro clássico, dos mais antigos e pintor de telas, mas a história é muito gay! O Marius vivia num castelo com diversos pupilos, todos jovens, que transam em diversas situações. Ainda não terminei, vamos ver se essa eroticidade toda vai ser substituída por um pouco mais de ação e aventura, permeado por paixões também, mas nem tanto, como nos outros romances ou se vai ficar essa água com áçucar!
Esse é um livro bonito que não faz parte das crônicas vampirescas "normais". É um livro a parte. Conta a história do jovem Vittorio que vivia em Florença e era apaixonado pelos anjos que via em pinturas e nas igrejas. O destino prega uma peça em Vittorio que é sequestrado por uma corte vampiresca que o transformam em vampiro, mas um anjo, ou vampiro-mulher, a Úrsula, salva Vittorio de ter a alma corrompida.
A saga da Família Mayfair
A HORA DAS BRUXAS I E II
Estupidamente bom ! Espetacularmente bem escrito! Absurdamente intrigante! Completamente envolvente!!! E quantos mais adjetivos positivos couberem. A Hora das Bruxas narra a história da Família Mayfair, que é uma antiga e poderosa família de Nova Orleans que apesar de tentar esconder, tinha suas mulheres todas amaldiçoadas por um fantasma ancestral: Lasher! O livro é contado em diferentes tempos, presente e passado e conforme os capítulos vão sendo narrados a história vai se revelando. Lasher quando é visto, é visto como um homem pálido de olhos e cabelos castanhos, bem vestido e fica parado no antigo jardim repleto de buganvílias descuidadas da mansão Mayfair. Deidre, que é a mulher perturbada por ele nessa geração é um vegetal numa cadeira de rodas. Completamente dopada por medicamentos, enlouqueceu por conta da presença assustadora do fantasma. Sua filha Rowan, a próxima e poderosa mulher que seria assombrada por Lasher, é uma médica cética que foi criada longe da família e tem vergonha de suas origens. No entanto ela se casa com Michael que é um jovem homem que passa por uma experiência de quase morte e adquire poderes. Ao tocar qualquer coisa ele poderia ler com a mente a história do objeto. Mas apesar de cética, Rowan terá que enfrentar a ameaça que perturba sua família há gerações!
Não vou entrar muito em detalhes, mas só falo uma coisa: Esse livro é animal!
Lasher é outro livro totalmente devorável e que inclusive preciso readquirir, já que roubaram uma edição que tinha. Todos os infortúnios que o Lasher causava à família Mayfair tinha origem na sua inveja pelos seres humanos. Lasher é um fantasma cheio de paixões e não poder sentir a vida como um ser humano com corpo era um martírio para ele. Ele passa o livro (Hora das Bruxas) inteiro tentando descobrir uma forma de ganhar um corpo humano e no finalzinho do livro ele consegue. (Outro final completamente " Ai-meu-Jesus-preciso-ler-a-continuação-agora!!!"). Aqui, ela narra como foi a história dessa vida bizarra (um antigo fantasma encarnado num corpo humano. ) Ele chega até a ter uma filha, mas não lembro e não posso contar muito senão vira spoiler.
E eis que nessas férias readquiri uma edição original pocket book de Lasher. Li numa sentada. Tinha esquecido muitos detalhes, mas voltei nesse post só para reafirmar que não me arrependo de ter relido o livro, pois é realmente um dos melhores. Lasher apresenta dois novos e envolventes personagens na saga da família Mayfair: Mona Mayfair que é uma bruxa de apenas 13 anos, atual herdeira do Legado da família. A Mona era uma criança que simplesmente sabia das coisas. Filha de uma mãe louca e álcoolatra, Mona se refugiava em sua própria inteligência e nos arquivos de seu computador onde relatava tudo que acontecia em sua vida. Ela seduz Michael, enquanto Rowan se encontra num cativeiro junto com Lasher, o sedutor demonio encarnado que a espanca e estupra (ou faz amor) diversas vezes, até deixá-la grávida de outro ser tão estranho quanto o próprio Lasher. O segundo personagem interessante apresentado no livro é Julien Mayfair, o único homem, dentre todas as gerações de bruxas Mayfair, que possui os dons da bruxaria. Julien vivia no século XVII, em fazendas da Lousiania. Podia ver e conversar com Lasher desde os quatro anos de idade e foi o responsável pelo estabelecimento da imensa fortuna da família Mayfair. Julien amava homens e mulheres. Tinha uma irmã insossa que não possuía os dons da bruxaria, mas que serviu para dar uma filha para Julien, Mary Beth. E depois o cara fica com própria filha-sobrinha e tem uma outra filha bruxa, Stella. É, o incesto rola solto, tudo sob o comando de Lasher que queria fazer uma espécie de programa genético para manter os dons bruxos fortes na família o que garantiria sua reencarnação futura. Julien vive uma vida repleta de paixões e poderes sobrenaturais e dá grandes passos na descoberta da históira do demônio que andava com a família Mayfair. Depois ele surge como uma aparição e dá as dicas pro mocinho Michael exterminar o demônio Lasher. No fim do livro, o próprio Lasher aparece como um padre (num espetáculo de linguagem irônica - o demônio era padre!) e conta a história de sua última encarnação na Terra, no século XIII, na forma de um santo que sempre voltava da morte: St. Ashlar! Mas St. Ashlar na verdade não passava de uma espécie cultuada pelas bruxas e pelo povo pequeno das florestas da Bretanha e esquecida nos dias atuais - O Taltos. Os Taltos são seres que nascem sabendo. Eles são um pouco mais esguios e bonitos que um ser humano comum, atingem tamanho adulto no mesmo instante em que nascem, se alimentam de leite, são seduzidos por música, tem muita força, não podendo dessa forma serem contrariados e possuem a peculiar característica de reencarnarem. Mas os taltos só nascem em bruxas, ou como descoberto pelas equipes médicas contemporâneas que aparecem no presente no livro, por pessoas que tem a condição genética rara de possuírem dois lotes cromossômicos. 92 cromossomos ao invés dos convencionais 46 e isso explicaria os poderes sobrenaturais dos Taltos. Muito bom, o livro termina como uma introdução ao próximo livro da série.
TALTOS
Esse livro fecha a saga da família Mayfair. Mostra a história da filha do Lasher, conclui as histórias das bruxas Mayfair e apresenta um novo e fascinante personagem: Ash, um ser da espécie Taltos que vive sobre a Terra a mais tempo do que podia lembrar. Ash se disfarça de trilionário, dono de uma fábrica e uma imensa coleção de bonecas e ele próprio era como as bonecas, delicado e fascinante. Também já tive esse livro e também me roubaram! Parece maldição do Lasher!
CRISTO SENHOR - A SAÍDA DO EGITO.
Quando jovem Anne Rice era uma católica praticante, mas na vida adulta se casou com o poeta Stan Rice, que amava muito, foi casada durante 38 anos e teve dois filhos. Stan Rice apesar de poeta sensível erá um cético incorrígivel e influenciou a vida e o modo de escrever de Anne Rice. Segundo a escritora, seus monstros, vampiros, fantasmas e bruxas eram apenas um reflexo das sombras que invadiam sua alma. Há alguns anos, Anne Rice perdeu Stan e um filho para um cancêr. Ao ter de lidar com a perda dos entes queridos, Anne se volta para a religião e decide abandonar todo seu antigo estilo para se dedicar a Jesus Cristo. Os fãs mais críticos diriam que ela jogou fora a carreira, mas na verdade ao arriscar e mudar completamente seu estilo ela alavanca as vendas de seus livros. Cristo Senhor me foi apresentado por uma pessoa que amei. Escrito com referência em uma forte pesquisa histórica, o livro conta lindamente a história de Jesus Cristo, narrada em primeira pessoa, no tempo em que o Messias tinha apenas sete anos de idade e sua família está retornando do Egito para a Galiléia.
A história é linda, comovente e eu enquanto fã de Anne Rice e fã de Jesus Cristo posso garantir uma coisa: é um novo estilo, mas de alguma forma o jeitão assustador, envolvente e fascinante, também está nesse livro. Quando Jesus descobre que tem poderes, quando ele mata e ressucita um garoto ou quando ele descobre que o Rei Herodes assassinou duas mil crianças enquanto procurava Jesus.
De um jeito ou de outro, a Anne Rice é fodástica. Esse livro tem uma continuação, que estou louco para ler, mas ainda não li, então não vou postar por enquanto.
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